Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja. Acusado de ter desviado a décima enquanto ouvidor, possivelmente uma armadilha para o prejudicar, visto ser próximo de pessoas que foram vítimas de Pombal, o pai de Bocage foi preso para o Limoeiro em 1771, nunca chegando a fazer defesa das suas acusações. Com a morte do rei D. José I, em 1777, dá-se a "viradeira", que valeu a liberdade ao pai do poeta, que voltou para Setúbal, onde foi advogado.Vai para a Academia Real da Marinha aos 14 anos e é por amor a Gertrude que, em 1786, Bocage parte para a Índia, com passagem pelo Rio de Janeiro. Vive dois anos em Goa, dois anos de grande decepção com a pior das terras, a que chama de esta república de loucos, de profundas saudades de Portugal, da margem deleitosa do Tejo e, sobretudo, de enlouquecedor ciúme de Gertrude –
Temo que a minha ausência e desventura
Vão na tua alma, docemente acesa,
Apoucando os excessos da firmeza,
Rebatendo os assaltos da ternura:
Temo que a tua singular candura
Leve o tempo fugaz, nas asas presa,
Que é quase sempre o vício da beleza,
Gênio mudável, condição perjura:
Temo; e se o fado mau, fado inimigo,
Confirmar impiamente este receio,
Espectro perseguidor, que anda comigo,
Com rosto alguma vez de mágoa cheio,
Recorda-te de mim, dize contigo:
“Era fiel, amava-me, e deixei-o”.
–, vivendo uma espécie de predestinação sentimental e trágica dentro do modelo camoniano, que tomou para si. Camões, grande Camões, quão semelhante/ Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! Igual causa nos fez perdendo o Tejo/ Arrostar co sacrilégio gigante. Aliás, o paralelismo da sua vida com a de Camões foi uma obsessão bocagiana: Nem lhe amo a glória, nem lhe invejo a sorte:/ Invejo-te, Camões, o nome honroso ou Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!.../ Se te imito nos transes da ventura,/ Não te imito nos dons da natureza.. Em 1789, promovido a tenente de infantaria, é colocado em Damão, mas, apenas dois dias depois da chegada, deserta. E após um breve envolvimento com uma mundana famosa, Ana Jacques Manteguí, parte para Macau, quando conhece, ao lado da nostalgia da pátria, e da ausência de Getrude – Adeja, coração, vai ter aos lares,/ Ditosos lares, que Gertrúria pisa; [...] Dize-lhe, que do tempo o leve giro/ Não faz abalo em ti, não faz mudança,/ Que ainda lhe és fiel neste retiro – , a miséria.
Finalmente, em 1790, com 25 anos, Bocage consegue ajuda para regressar a Lisboa, onde a predestinação se confirma: vive a grande desilusão de encontrar a amada Gertrude casada com o seu irmão mais velho. Daí a retomar a vida boêmia e desregrada, entre botequins e tertúlias, foi apenas um passo.
Bocage pertenceu à Nova Arcádia onde era conhecido pelo pseudônimo de Elmano Sadino. As suas relações com a Arcádia não foram pacíficas, tendo, ao afastar-se, lançando ataques contundentes nos seus versos. O seu pendor satírico levou-o à prisão do Limoeiro, conseguindo a transferência para o mosteiro de São Bento onde vem a falecer pobre e doente em Lisboa na manhã de 21 de Dezembro de 1805. As suas obras tiveram várias edições ainda em vida do poeta: Rimas, tomo I (1791), Rimas, tomo II (1799) e Rimas, tomo III (1804). Em 1811 foram publicadas as Obras Completas no Rio de Janeiro. Ficaram famosos os seus Sonetos, os seus Epigramas e os seus Apólogos.
Principais obras de Manuel Maria Barbosa du Bocage
1. A Morte de D. Ignez
2. A Pavorosa Illusão
3. A Virtude Laureada
4. Elegia
5. Improvisos de Bocage
6. Mágoas Amorosas de Elmano
7. Queixumes do Pastor Elmano Contra a Falsidade da Pastora Urselin
8. À Puríssima Conceição de Nossa Senhora
9. Convite à Marília
10. O Triunfo da Religião
Características das obras de Bocage
Bocage foi pré-romântico no gosto do mórbido, no uso de palavras altissonantes, no uso das interjeições, reticências e apóstrofes. Em algumas passagens sua linguagem já se aproxima do coloquial.
Bocage notabilizou-se como repentista, poeta satírico, erótico e pornográfico e de verve brilhante, o que ligou seu nome a episódios que enchem seu anedotário popular.
Por outro lado, também cultivou o soneto à maneira camoniana. Foi autor de versos de celebrada harmonia e também de lugares-comuns rimados.
Árcade pelo aparato mitológico e pelo emprego de alegorias abstratas (o Fado, a Desventura, etc.), Bocage escreveu idílios, epístolas, odes, canções, cançonetas e cantatas.
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